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Vozes Autênticas: Dubladores Trans e a Real Representatividade

A representatividade no audiovisual é uma questão crucial para a comunidade trans. Quando personagens trans são dublados por dubladores trans, a autenticidade da representação é significativamente aprimorada. A voz é uma parte essencial da identidade de um personagem, e ter um dublador que compartilha experiências de vida semelhantes pode trazer uma profundidade e veracidade que um dublador cisgênero dificilmente alcançaria.

Exemplos Inspiradores: Vozes que Fazem a Diferença

No Brasil, temos exemplos notáveis de dubladores trans que estão fazendo a diferença. Um exemplo relevante é Marun Reis, homem trans que dublou Viktor Hargreeves em The Umbrella Academy. Além de Marun, destacam-se Zara Dobura, travesti que deu voz a Naomi Russel em Heartstopper, Alexia Vitória, também mulher trans, que dublou a personagem Sacha em Veneno, Ana Victoria, transfeminina que deu voz para Imperadore J’Mon Sa Ord, na terceira temporada de Vox Machina, e Gabriel Lodi, homem trans que dublou Nico Fernández na série Elite.

Conversamos com Ana Victoria, atriz, cantora e dubladora, apaixonada por seu trabalho, pelas artes e pela humanidade, que emprestou sua voz à personagem Imperadore J’Mon Sa Ord em Vox Machina. Ana é uma pessoa trans, autista e negra, e vem buscando espaços pra mostrar do que é capaz.

Black Company: Qual foi sua reação ao saber que trabalharia com ume personagem trans não binarie?
Ana: Por razões contratuais e de sigilo, a gente não tem informação nenhuma sobre o que vamos dublar, só na hora que você entra na cabine e a pessoa que está dirigindo te conta. Quando a Bruna (Nogueira, diretora de dublagem) me disse que eu ia fazer uma personagem não-binária eu fiquei muito animada. E um detalhe importante: J’mon Sa Ord não chega a ser uma pessoa trans, já que elu é um dragão, todas as suas características na forma humana são andróginas. O conceito humano de gênero não se aplica a elu.

Black Company: Como foi pra você dar a voz para ume personagem tão importante como Imperadore J’mon Sa Orb em Vox Machina ?
Ana: Eu fiquei COMPLETAMENTE apaixonada por elu. É uma personagem que emana uma imponência, e mesmo nos momentos mais duros, mantém uma serenidade no olhar e na voz que nunca se perdem. Quando eu dublo, gosto de me movimentar junto com o boneco (jargão da dublagem), respiro junto, deixo as mãos da mesma forma, a postura… Pude sentir e construir em mim mesma toda essa majestade que emana delu. Foi fantástico.

Black Company: Como você vê a importância da representatividade trans na dublagem?
Ana: Por muito tempo nós fomos apenas uma piada. Em dublagens mais antigas você vê personagens trans e drag queens sendo dubladas não só por homens, mas sempre de uma forma caricata e atrevida, sempre tem o momento da piada com a voz grossa… Quando nós passamos a dar voz pra nós na dublagem, acaba esse lugar de ser piada. A narrativa passa para as nossas mãos, e aí sim vem todas as nuances que nós vivemos. Claro que atores competentes podem fazer qualquer coisa, mas não se trata disso: nós estamos num tempo em que grupos marginalizados estão clamando de volta sua humanidade, e nos dar esses lugares é um gesto de entender que nós estivemos de lado, sendo a piada, sendo as caricaturas, por muito tempo. Existem seres humanos por trás dessas caricaturas.

Black Company: Você acredita que a presença de pessoas trans na dublagem pode influenciar positivamente a percepção do público sobre pessoas trans? Como?
Ana: Eu acredito. Como eu falei, é uma questão de recuperarmos a nossa humanidade. Não estamos lá só por estar, só pra dizer que estamos, ninguém ganha um papel só por ser trans. Existe competência, estudo, dedicação, trabalho… Eu atuo há 16 anos, fiz diversos cursos teóricos e práticos, fiz curso de dublagem no Senac, fiz no Rio de Janeiro, construí networking, fiz testes e mais testes, registros de voz… Tudo aquilo que uma pessoa cis e hétero fez pra estar lá, eu também fiz. Então eu acredito na representatividade como uma forma de mostrar que nós também queremos e podemos.

Black Company: Deixe aqui suas considerações finais.
Ana: Eu estou nas nuvens com a recepção do público, muito muito muito feliz mesmo. É um trabalho que eu amei fazer, a Bruna e o pessoal da Dubbing Company são sensacionais, estão fazendo um trabalho excelente com a série. Eu mesma não conhecia a série até fazer a escala, e comecei a assistir assim que cheguei em casa, virei fã. Então, assistam – toda quinta sai episódios novos dessa temporada, prestigiem, valorizem o nosso trabalho, valorizem a humanidade da dublagem viva… E me chamem pra mais personagens, mais episódios com Vossa Reverência Imperadore J’mon Sa Ord!

Caminhos para a Inclusão

A importância de dubladores trans dublando personagens trans vai além da simples representação. Trata-se de justiça, autenticidade e empoderamento. É uma forma de garantir que as vozes trans sejam ouvidas e respeitadas, tanto na tela quanto fora dela. À medida que a indústria do entretenimento continua a evoluir, é crucial que continue a abrir espaço para talentos trans, reconhecendo e valorizando suas contribuições únicas. Afinal, a verdadeira representatividade só pode ser alcançada quando todos têm a oportunidade de contar suas próprias histórias.

Uma resposta

  1. Eu sou mãe de Ana Victoria, e acho que esse negócio de ter que rotular que a pessoa é trans ou cis binária ou não binária, ba há necessidade oque esta em questão é ,a pessoa éprofissional ?,sabe o que está fazendo ,ótimo vida que segue não vai ser a opção sexual que vai atuar esse é a minha visão, o importante é o que a pessoa vai entregar !!!

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