Sete anos após o lançamento de O Contador (2016), Ben Affleck volta ao papel do misterioso Christian Wolff, o autista gênio da matemática com habilidades letais que já se tornaram marca registrada da franquia. Agora, com O Contador 2, a promessa é mais do que apenas uma continuação: é uma evolução em tom, ritmo e química entre personagens — principalmente pela presença mais marcante de Jon Bernthal.
Enquanto o primeiro filme apostava em uma abordagem mais sombria, técnica e introspectiva, o segundo capítulo da história expande o universo com doses bem calibradas de humor sarcástico, diálogos afiados e um jogo de espelhos entre os protagonistas. O que antes era um thriller cerebral com ação de precisão quase militar, agora se torna também uma comédia de ação que nunca se esquece de onde veio — nem para onde quer ir.
A fórmula matemática + adrenalina + humor
A grande sacada de O Contador 2 está no seu tom mais leve, sem perder o peso emocional e a tensão da trama. O roteiro entende que a fórmula do primeiro filme funcionou, mas que repetir tudo igual não bastaria. Por isso, investe mais nas interações entre Christian (Affleck) e seu irmão Braxton (Bernthal), explorando conflitos familiares, traumas do passado e, surpreendentemente, piadas que quebram a tensão nos momentos exatos.

O humor surge de forma orgânica, fruto das personalidades opostas dos irmãos: enquanto Christian é metódico e introspectivo, Braxton é impulsivo e provocador. Essa dicotomia garante não só alívio cômico, mas também dinamismo às cenas de ação, que continuam impecavelmente coreografadas e agora ganham uma camada de ironia quase tarantinesca.
Comparando O Contador 1 e 2: evolução ou repetição?
Para quem viu o primeiro filme, a comparação é inevitável. O Contador original entregava um thriller sólido, com uma atuação contida de Affleck, uma montagem quase cirúrgica e uma trama que surpreendia pela originalidade. No entanto, o tom mais frio e o excesso de reviravoltas deixavam a experiência, por vezes, emocionalmente distante.
Já O Contador 2 é mais acessível, mais ágil e, em certo sentido, mais divertido. A ação continua eficiente — com cenas de combate corpo a corpo que rivalizam com o melhor de John Wick — mas agora temperada com uma relação de irmãos que funciona como fio condutor da história.
É uma mudança de direção bem-vinda. O novo filme entende que seu maior trunfo está na química entre Affleck e Bernthal — e dá espaço para que isso aconteça.
Ben Affleck e Jon Bernthal: o eixo emocional e cômico da trama
A relação entre os dois personagens é o coração pulsante de O Contador 2. Affleck entrega novamente um Christian Wolff cheio de camadas: um homem tentando encontrar estabilidade emocional em meio ao caos. Mas é Bernthal quem rouba diversas cenas com um timing cômico preciso, sem perder o tom agressivo que o tornou um dos atores mais respeitados em papéis intensos.
As cenas em que os dois estão juntos revelam um tipo raro de sinergia cênica, onde o humor não diminui a tensão — ele a transforma. E isso é crucial para manter o espectador preso à trama sem que o peso dramático se torne um fardo.
Vale a pena ver O Contador 2?
Definitivamente. O Contador 2 é uma sequência que entende o próprio legado, mas se permite ousar. Ele expande o universo do primeiro filme com inteligência, trazendo personagens mais humanos, cenas de ação eletrizantes e um ritmo narrativo que prende do início ao fim.
É um daqueles filmes que agradam tanto quem quer ver pancadaria de qualidade quanto quem busca personagens com profundidade emocional — e, agora, também com boas doses de sarcasmo.