A primeira transmissão de rádio no Brasil foi ao ar em 7 de setembro de 1922. Só que, apesar do marco histórico, ele demorou um pouquinho para cair no gosto popular. Além de ser muito caro, houve lentidão na criação de retransmissoras. Quando a barreira tecnológica finalmente foi vencida, a solução para conquistar o público veio de uma fórmula já testada nos jornais: os folhetins, narrativas em capítulos que prendiam a atenção como se fossem as séries de “streaming” da época.
O gênero explodiu de vez nas décadas de 40 e 50. Foi nesse período que dramas como O Direito de Nascer (1951) e Jerônimo, o Herói do Sertão (1953) dominaram o imaginário popular. A febre era tão grande por aqui quanto lá fora: nos Estados Unidos foi pela Mutual Network que o Superman saiu dos quadrinhos pela primeira vez. O famoso personagem ganhou voz em As Aventuras do Superman (1940), com o ator Clayton Collyer.
Nessa mesma época, houve também o famoso episódio da “invasão alienígena”, narrado por Orson Welles em 1938, quando A Guerra dos Mundos convenceu muita gente de que os marcianos estavam, de fato, chegando. Mas toda essa magia tinha um preço alto: produzir uma radionovela custava caro, e o gênero foi perdendo fôlego nos anos 70, quando a televisão tomou conta da sala de estar.
Apesar disso, nos últimos anos, as boas e velhas radionovelas voltaram ao palco sonoro, de cara nova. Hoje, elas aparecem sob rótulos modernos como áudiosséries, audiodramas ou, mais simplesmente, podcasts de ficção. A essência, contudo, continua a mesma: histórias em capítulos que transportam o ouvinte para outros mundos, só que agora com trilhas imersivas, fones de ouvido no lugar do rádio da sala e o charme de serem maratonadas a qualquer hora, como quem acompanha a temporada mais recente de uma série da Netflix.

E o retorno não é discreto: produções como Paciente 63 conquistaram o topo das paradas no Spotify em 2022, provando que a ficção em áudio ainda tem muito fôlego. Já a série França e o Labirinto (2023), estrelada por Selton Mello, apostou em tecnologia binaural para criar uma experiência única, em que os sons circulam ao redor do ouvinte, colocando-o literalmente na pele do protagonista, um investigador cego.
Não é por acaso que a Audible tem investido pesado no Brasil e no mundo em produções originais, chamando grandes nomes e apostando em novos roteiristas para dar uma nova cara a esse formato centenário. Experiências como Calls (2021), da Apple TV+, já levam o conceito para outro patamar, misturando áudios com imagens abstratas, uma espécie de híbrido entre podcast e série experimental.
No fim, se o rádio do século XX ajudou a moldar a imaginação de milhões, os podcasts de ficção e as áudiosséries de hoje em dia mostram que ainda temos muito a ouvir. Talvez estejamos apenas no primeiro capítulo dessa nova temporada sonora.