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The Last of Us e a perda de essência.

Eu sei que já fazem algumas semanas que a segunda temporada de “The Last of Us” da HBO terminou, mas eu ainda estou com esse sabor amargo de quem esperou tanto e deixaram um vazio no peito. E tivemos ótimos debates sobre a temporada, inclusive com um podcast exclusivo aqui na Black que você pode conferir clicando aqui.
Talvez possa ser o meu lado passional pelo jogo que desde o primeiro lançamento, lá em 2013, sempre mexeu demais comigo, mas o que fizeram com essa segunda temporada da série foi de muito mau gosto, por remover características que fazem toda diferença.

O problema não foi adaptar, foi adaptar sem essência de “The Last os Us”

Muitos que estão lendo esse texto vão dizer, “mas é uma adaptação, nem tudo vai ser igual” e sim, eu compreendo. A primeira temporada da série também foi uma adaptação e tirando alguns poucos detalhes, foi muito bem executada quando Neil Druckmann ainda estava envolvido de forma interina na produção.
Chegamos a segunda temporada e Druckmann se afastou um pouco da produção da série e deixou as coisas ao encargo de Craig Mazin e aqui os problemas começaram. Mazin resolveu dar seu toque e sua visão a história, e algumas coisas ficaram interessantes, como a horda atacando Jackson, que deu um destaque maior a comunidade, a opção por inserir novos personagens como a psicóloga Gail, apesar de controverso, tentou “entrar na mente” de Joel já que não o “controlamos” na série e assim não temos uma visão tão intimista.
Mas foi em personagens centrais nessa segunda parte que as coisas se perdem e perdem a essência, começando por Jesse, passando por Tommy e Dina e culminando em uma Ellie totalmente fora do contexto do jogo e tirando aquilo que torna o jogo tão diferenciado e ao mesmo tempo controverso: a dualidade.

As mudanças em personagens essenciais

Se a principal e mais severa mudança aqui foi da Ellie, vou deixar pra falar dela por último e vamos começar pelo Jesse.
No jogo, Jesse também é muito focado nas regras e também é considerado “chato”, porém isso é equilibrado com um senso de humor meio irônico, um estilo “zoeiro” que até coloca Ellie em situações embaraçosas, na série o personagem é apenas chato mesmo, o senhor dos sermões e se vê obrigado a estar em Seattle apenas pelo bem de Jackson tentando levar Ellie e Dina novamente pra casa, mas até aqui ok, apesar disso, é um personagem que não alteraria excessivamente os rumos, mas ele vai para Seattle acompanhado de Tommy, sim o irmão de Joel, aquele que no jogo é o primeiro a sair de Jackson em busca de vingar o irmão, que chega a deixar Ellie para trás e rastros que as meninas passam a seguir quando chegam em Seattle.
Na série temos um Tommy passivo, que vai para Seattle com o mesmo objetivo de Jesse e assim, se tornando apenas mais uma peça quase nula. Alguns vão dizer “mas na série ele precisou ajudar a reconstruir Jackson e cuidar da comunidade” e ok, ele realmente precisava, mas uma parte essencial da história do jogo tem Tommy e seu desejo “cego” (aos que jogaram, desculpem aqui pelo trocadilho) por vingança como parte essencial para movimentar mais uma vez Ellie e seu remorso.
Bom, sem Tommy e seu rastro, Ellie e Dina precisam de ainda mais recursos e expertise para entender o que está acontecendo em Seattle, e isso deveria ser algo positivo né? Mais destaque para as personagens, mais cenas tensas e mais embates considerando que elas estão em um território hostil, pena que apenas uma das personagens parece ter entendido o que realmente estava acontecendo.
Dina ganhou protagonismo, e talvez aqui tenha sido a melhor adaptação que Mazin tenha feito. A personagem passou a ter uma relação muito mais próxima com Joel, que não estava presente no jogo, o que faz com que a ida dela a Seattle e a cena com o discurso dela sobre o porquê seguir com aquilo ganhasse muito mais peso, seu tom debochado, ao mesmo tempo que divertido cativou o público, seria o equilíbrio perfeito com a tensão trazida por sua companheira, se houvesse existido tensão.

Uma Ellie dependente demais

A Ellie de Mazin nada tem a ver com a Ellie de Druckmann, apesar de alguns lampejos, e apesar de todas as críticas feitas a Bella Ramsey, o problema não foi a atriz em si e sim o roteiro entregue a ela.
A Ellie do jogo te cria um mal estar por ser tomada por um sentimento que nos faz perder a razão, não medir consequências e ter atitudes moralmente questionáveis e aqui é o ponto que o jogo sempre se destacou, as questões morais e questionamentos sobre até onde vai nossa moral e humanidade em um mundo cada vez mais caótico.

A Ellie da série nos faz criar antipatia por soar uma adolescente mimada, que não escuta nada e nem ninguém, não por estar tomada por um sentimento ruim, e questões maiores como culpa, remorso ou até mesmo raiva pelo que Joel fez e depois com o que fizeram a ele, mas simplesmente pelo fato de ser uma adolescente rebelde e soa até fútil às vezes, e por mais que a gente saiba suas razões, elas perdem força pela construção fraca da personagem na série.
Ela chega em Seattle e as primeiras sensações que temos, é que ambas foram a turismo, conhecer uma cidade em ruínas nova. A cena em que Dina revela sua gravidez faz com que a busca por vingança de Ellie perca ainda mais força a ponto dela cogitar ir embora sem nem ter começado direito as buscas em Seattle, coisa que nunca ocorreu no jogo onde ela inclusive diz que agora Dina se tornou um “fardo” para ela.

Uma das primeiras lições que Ellie aprende é que ela pode ser imune a infecção, mas não a ser dilacerada viva pelos infectados, e aqui ela se oferece como um banquete gigantesco para uma horda de infectados para “proteger” Dina, e ambas morreriam de forma “tosca” se Jesse não tivesse surgido.
E para completar, no episódio final, Mazin coloca o figo no bolo, com aquela cena totalmente aleatória da onda carregando Ellie para a ilha dos Serafitas, sendo solta viva, depois de ser sentenciada à morte por uma criança e surgindo do nada no aquário, onde existia uma cena totalmente coreografada que foi resumida a um tiro de “supetão”. 

Foi tudo ruim na segunda temporada de The Last of Us?

A resposta é não! Até o segundo episódio ainda estava dando para sustentar muitas alterações, como as revelações de quem era a Abby e suas motivações logo no início, a inserção de Gail, o maior destaque a Jackson e até mesmo a mudança nas patrulhas que culminaram na morte de Joel, tudo eram adaptações aceitáveis e se comunicavam bem com o público que estava acompanhando a história apenas com a visão da série.
E o principal destaque e que foi eleito o melhor episódio da temporada, é onde Pedro Pascal retoma o protagonismo, e os flashbacks dele e da Ellie são reunidos em um episódio marcante e que faz o que The Last of Us Part II é especialista em fazer: Mexer com as nossas emoções.
E sabe o que mais teve de diferente neste episódio em relação aos demais da temporada? Teve a participação do criador da obra original de forma integral.

O episódio “The Price” foi roteirizado e dirigido por Neil Druckmann e com esta informação finalizo com a seguinte colocação: O problema não está em adaptar para outros formatos e plataformas e sim quando as adaptações fogem e perdem a essência de quem os criou e a segunda temporada de The Last of Us escancara isso. 
E leia os demais textos deste que vos fala aqui no Santuário Geek.

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