O que é preciso para uma alma ir ao paraíso? Uma pessoa ruim pode ter uma redenção e se tornar boa? Esses são questionamentos explorados pela série Hazbin Hotel em forma de comédia musical e com excesso de palavras de baixo calão, pois afinal, é o inferno. A história mostra a princesa Charlie, filha de Lúcifer e Lilith, que decide criar um hotel de reabilitação de demônios para o paraíso com o objetivo de impedir o máximo possível o extermínio da população do inferno. Criada pela animadora Vivienne Medrano, a animação originalmente foi lançada em 2019 no Youtube por um grupo independente, porém os direitos foram comprados pela empresa A24 e produzida pela Amazon.
Stephanie Beatriz, conhecida por seu papel como Rosa Diaz em Brooklin 99, dá voz a Vaggie, e Keith David, dublador conhecido nos Estados Unidos por dublar o icônico Doutor Facilier( A Princesa e o Sapo) e o gato de Coraline, vive Husk na história. Também fazem parte do elenco a atriz da broadway Erika Henningsen (Mean Girls) como a protagonista Charlie, Blake Roman sendo Angel, Kimiko Glenn (Orange is the new black) interpretando a Nifty, Amir Talai( Amphibia) dando a voz ao Alastor, e Alex Brightman é Sir Pentious.
A parte visual da animação atrai a atenção de quem assiste, pois ela é esteticamente muito bonita e rica em detalhes. Uma questão que se destaca muito é a caracterização dos personagens. As criaturas do inferno são representadas de acordo com a vida que viveram. Geralmente têm um visual grostesco, ao contrário dos seres do paraíso, que têm uma aparência mais humana. Quem está no submundo é visto e tratado como um monstro pecador e não como um ser humano. Isso inclusive é usado como uma justificativa do paraíso fazer o extermínio anual do povo infernal.
A ideia geral é excelente e bastante criativa. Inicialmente foram propostas várias ideias que tinham tudo para se ter uma história interessante, com ótimos plot twists e até construir bons arcos de personagens, já que o foco é a redenção. Porém, o problema foi o mal desenvolvimento da trama. São 8 episódios no total, mas somente no sexto episódio que a história parece realmente tomar algum rumo. Nos outros 5 a trama parecia girar sempre no mesmo lugar, a sensação era de que nada estava acontecendo e que não tinha nada novo. Os diálogos também são confusos em alguns momentos e às vezes surgiam informações e revelações sem contexto, o que deixa a história meio confusa.
Foi proposta uma ideia muito interessante e importantíssima: a descoberta de que um demônio pode matar um anjo. Essa informação é fundamental para a história, já que acende a chama de uma possível revolução e intensifica o clima de tensão entre o paraíso e o inferno. Porém essa questão é esquecida, quase pouco mencionada nos episódios seguintes. Só nos dois últimos episódios é trazida de novo, mas até lá é capaz de o espectador até ter esquecido. Essa informação era valiosa e podia ter gerado um bom arco, mas foi mal aproveitada.
Charlie não teve tanta força como protagonista, não por causa da dublagem, mas pelo desenvolvimento de sua história e personalidade dentro da trama. Ela se apresentou “meio sem sal” e não conseguiu ter uma presença tão marcante na história, ao contrário de Angel, que conquista o público com seu carisma e trejeitos engraçados e Alastor, com sua perversidade mascarada de empatia. É comum terem secundários que atraem a atenção do público, porém Angel e Alastor conseguem se destacar mais do que a protagonista. Charlie fica um pouco apagada na história.
Por fim, a parte musical é bem forte e bastante presente na série. Ela consegue salvar a série de cair na monotonia total. As músicas eram boas, com letras criativas e contagiantes que davam vontade de ouvir mais de uma vez e cantar junto. As canções deram uma emoção, um “tcham” a mais que dava vontade de continuar assistindo. Se for para destacar a melhor, a música “Poison”, cantada pelo personagem Angel Dust quando revela a triste realidade de estar preso a Valentino e ter que fazer tudo que ele manda.
Hazbin Hotel quebra um pouco as expectativas. A animação não é ruim, mas certamente não tem todo o potencial explorado. A A24 tinha um material riquíssimo em mãos para produzir uma grande obra, mas o desenvolvimento não foi feito da melhor forma, tanto em relação à narrativa, quanto em relação aos personagens, principalmente a Charlie. Esses são pontos relevantes a serem resolvidos e melhorados para que a segunda temporada flua bem.
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