Em 2013, com House of Cards, a Netflix estreou um sistema que hoje podemos chamar de sua maldição: lançar todos os episódios de suas séries de uma única vez. Podemos afirmar que séries de extremo sucesso, como Bridgerton, são duramente afetadas com isso. A série da renomada Shonda Rhimes teve sua primeira parte lançada no último dia 16 de maio com uma grande quebra não só de ritmo, mas de qualidade. Seus últimos episódios, com em Penelope e Colin, só serão lançados no dia 13 de junho. Seria isso uma maneira da Netflix tentar manter a série por mais tempo em alta?
Em sua terceira temporada, finalmente temos o foco em um casal que já estava formado desde o primeiro ano. Penelope Featherington (Nicola Coughlan) e Colin Bridgerton (Luke Newton) sempre apresentaram uma grande química, mas quando finalmente chegaram em seu momento de brilhar, eles decepcionam. O diferencial de Bridgerton para outras obras de romance estava na capacidade de formar casais únicos, envolventes e repletos de paixão. Podemos pegar o Duque Simon Basset e Daphne Bridgerton, ou o Visconde Anthony Bridgerton com Kate Sharma, ambos os casais tiveram seus desenvolvimentos de forma natural, com o telespectador sendo capaz de sentir o nascimento de um amor verdadeiro.
Bridgerton: o casal Penelope e Colin
Polin, nome dado ao casal protagonista da terceira temporada, é formado de forma rápida e abrupta. Não parece existir a construção de um amor único, principalmente do lado de Colin, pois Penélope sempre foi apaixonada pelo amigo. Após um beijo, Colin no episódio seguinte já se encontra apaixonado. Ele nunca indicou ter sentimentos amorosos pela amiga, a trama até agora tinha encaminhado para algo puramente platônico por parte de Penélope. Isso podemos chamar talvez de um erro de narrativa, pois ambos os personagens sempre estiveram presentes na série, então sua construção poderia ter sido feita a muito tempo.
Ver Bridgerton é semelhante a ler um livro de romance. Você consome a história episódio após episódio como se folheasse páginas, mas a quebra da temporada ao meio prejudicou a fluidez. A escolha, infeliz, de lançar os últimos episódios com um delay de um mês, poderia ser resolvida caso optassem por lançamentos semanais! Você teria um deleite enquanto espera a próxima semana e de quebra deixaria a trama sempre em alta.
Esse espaçamento de episódios semanais talvez criasse uma impressão de que o amor do casal protagonista foi mais natural e não abrupto. Entendo que ainda precisamos dos episódios finais, afinal Colin precisa descobrir o grande segredo de Penélope. Entretanto, o melhor da obra já foi entregue: a revelação que ele a ama de fato. A temporada se perde também enquanto tenta contar não só a história de Polin, mas de Francesca enquanto ainda abre ganchos para a temporada de Benedict.
Você termina os quatro episódios iniciais sentindo falta daquele modo tradicional dos primeiros anos, onde cada uma delas era dedicada a somente um casal. Aqui, você precisa tentar se apegar a praticamente três núcleos totalmente distintos enquanto passa raiva da mudança drástica da personalidade de Eloise.
Infelizmente esse padrão é algo constante em obras de Shonda Rhimes, já que ela sempre consegue criar universos e personagens cativantes, com ótimos começos, mas sempre se perde do meio para o final. Shonda, quase nunca, consegue manter o fôlego de suas obras, pois elas constantemente se alongam por longas temporadas que, na verdade, deveriam ter sido finalizadas a muito tempo.
Ainda há esperança enquanto os episódios finais, mas relativamente pequena. O impacto inicial deixou o desânimo prominente fazendo com que talvez Bridgerton termine seu terceiro ano sendo esquecida e não um dos grandes lançamentos de 2024. Lady Whistledown ficaria decepcionada com o que Shonda está entregando.
Nenhuma matéria relacionada.