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Donzela é a fantasia que precisávamos

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Sem fazer muito alarde, a Netflix anunciou no início de março o filme de aventura fantástica Donzela, dirigido por Juan Carlos Fresnadillo e estrelado por Millie Bobby Brown (Stranger Things), Robin Wright (House of Cards) e Angela Bassett (Pantera Negra: Wakanda Para Sempre). A premissa é simples: através do tempo, nos acostumamos a ver histórias onde a donzela em perigo é salva por um nobre cavaleiro, um herói de capa e espada. Essa produção, entretanto, não entra nesse conceito – e tal fato é reforçado na primeira fala do filme.

Resumo

A cena inicial da protagonista já nos dá a entender que não estamos diante de uma mulher frágil e que necessita de auxílio: Elodie (Brown) está cortando lenha para garantir aquecimento ao povo da vila onde moram, na iminência de um rigoroso inverno que irá desafiar o poder de sobrevivência dos habitantes. Acompanhada de sua irmã mais nova, Floria, ela recebe do pai e de sua madrasta (Bassett) a informação que sua mão foi pedida em casamento pelo príncipe do reino de Áurea, e essa união garantiria os proventos necessários para que a vila – cujo pai dela é o líder – consiga atravessar a estação mais fria do ano sem dificuldades.

Como esperado, Elodie externa que não deseja se casar, e fica claro que a garota almeja viajar o mundo e conhecer novos lugares. Entretanto, acaba sendo convencida a aceitar a proposta. Assim que chegam ao castelo de Áurea e são recepcionados pela rainha Isabelle (Wright), a perspectiva da protagonista começa a mudar, encantada com a beleza do lugar e por conta da rápida conexão que acaba tendo com o príncipe.

A personagem de Millie Bobby Brown, trajando uma coroa dourada, colar bem adornado e um manto carmesim, está de frente para uma sacerdotisa.
Elodie pronta para se casar com o príncipe de Áurea

Porém, é óbvio que essa história de – literalmente – conto de fadas não iria acabar com um final feliz, afinal essa não é a história de uma donzela em apuros salva por um cavaleiro. Não entraremos em detalhes, mas, resumidamente, Elodie se vê em uma situação onde terá que se virar sozinha para escapar de uma perseguição em um lugar inóspito e cheio de desafios. Nesse ponto, Fresnadillo (que já tem experiência com filmes de suspense e terror, como Extermínio 2) fez um bom trabalho ao trazer uma ambientação que lembra até mesmo os filmes da saga Alien, de Ridley Scott – mas um “Alien para menores”, podemos dizer assim. A produção passa então a ter momentos de tensão e alívio, buscando quebras de expectativas que nem sempre se pagam, mas podemos dar um desconto.

Roteiro fraco, raso ou simples?

Elodie está de costas para o príncipe, a rainha e o rei, todos em trajes de realeza
A rainha Isabelle junto ao príncipe e ao rei – que são irrelevantes

Talvez aqui esteja o maior pecado da produção: o roteiro de Dan Mazeau (Velozes & Furiosos 10) é um tanto raso – ou melhor: direto ao ponto. Percebe que não citamos em momento algum o nome do príncipe, do pai de Elodie, e nem mesmo a presença de um rei (que teve a atuação de Milo Twomey como um mero figurante)? Isso porque, sinceramente, não importa. A construção de mundo é outro ponto fraco, tanto que o nome da vila onde Elodie mora com a família sequer é citado – salvo erro nosso. Mazeau também não é muito feliz ao criar mistérios, pois não é preciso muito esforço para entender para onde o enredo está caminhando.

Apenas curta a viagem

Elodie, ferida e suja, presa ao chão pelas garras de um dragão
Millie Bobby Brown é para esse longa o que Sigourney Weaver foi para Alien

Isso não faz Donzela deixar de ser divertido: Millie Bobby Brown consegue levar o filme quase sozinha, com seu carisma e poder de atuação (além de ter feito todas as cenas de ação sem dublê). A computação gráfica e fotografia do – de certa forma, humilde – estúdio Roth/Kirschenbaum Films está ótima para o nível da produção. E falando em gratas surpresas, a trilha sonora conta com a participação de ninguém menos que Hans Zimmer(!!!).

Não se pode agradar a todos

Com certeza há quem irá criticar o filme pela falta de profundidade do roteiro, que não explora quase nenhum dos outros personagens, nem seus relacionamentos, ambições e conflitos. Contudo, precisamos ter em mente que toda a narrativa é feita a partir de um único ponto de vista: o de Elodie (salvo certo momento de reviravolta que envolve sua irmã Floria – e Mazeau poderia fazer funcionar ainda permanecendo apenas na visão da protagonista). Dentro do que ela passa, não há motivo ou necessidade de sabermos mais – principalmente porque o filme tem (ainda bem) menos de duas horas de duração. Podem também torcer o nariz para o fato de Elodie parecer mudar de ideia acerca dos seus planos futuros, porém a cena mestra entre ela e o pai é o suficiente para compreender que o peso que recai nos ombros dela é maior do que a vontade de dar vazão ao seu espírito livre. Por fim, prevemos reclamações quanto à temática – de certa forma – progressista do filme, mas se John McClane conseguiu sozinho salvar o edifício Nakatomi Plaza, por que a Elodie não pode também se virar sozinha em locais estreitos, onde o inimigo está sempre à espreita?

à esquerda, Elodie empunhando uma espada em posição de defesa; à direita, John MacClane de Duro de Matar, sujo, fumando um cigarro
Elodie rainha, MacClane nadinha

Conclusão

Como foi dito lá no início, a premissa do filme é simples. O filme é simples. E que bom que ele é simples! Passamos por um longo período onde os roteiristas queriam entregar apenas narrativas sombrias, com quebras de expectativa violentas e inesperadas, no intuito de causar indignação e repulsa. Donzela, entretanto, se apresenta como uma “fantasia confortável” (assim como foi Dungeons & Dragons: Honra entre Rebeldes – que infelizmente não teve o reconhecimento merecido), algo que nos remete a algumas produções nostálgicas das últimas décadas do Século XX.

Nem todo filme/série/livro precisa ser uma epopeia homérica ou ter o roteiro mais intricado e complexo do mundo. Dentro da mídia de entretenimento, o foco principal está no próprio nome: entreter, divertir, distrair. E nisso, Donzela faz o seu papel – sem precisar de príncipe encantado.

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Thiago Pe

Thiago Pe

Nascido e criado em Curitiba - PR, Brasil. Programador, escritor, rpgista, musicista, marido e pai. Tenta efusivamente conciliar todas as ocupações acima – e raramente consegue.

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