Fast X está nos cinemas e, como todos sabem, a franquia se direciona para um final. Contudo, não ache que o fim está assim tão próximo, caro leitor. O décimo filme da franquia traz de volta características iniciais, que o fizeram tão amado – unidas aos delírios tecnológicos dos filmes subsequentes. À moda antiga, Velozes e Furiosos 10 coloca carros à prova em rachas “sinceros” enquanto “força a barra” nos ganchos da história principal.
Mais uma vez a família está na ativa para um roubo espetacular envolvendo uma tecnologia desconhecida. Nada de novo se comparado aos roubos de carga no deserto dos primeiros filmes, apenas numa escala maior. Dom começa a ensinar seu filho Bryan (cujo personagem que inspirou o nome recebe diversas homenagens durante a trama) a arte de “sentir” o carro na hora de dirigir. O plot se concentra na vingança de um personagem nunca antes citado, filho do político corrupto brasileiro Hernan Reyes (que o nome não tem nada de BR) – Dante Reyes (uma clássica referência ao personagem Dante) que transporta Toretto pela mesma alegoria dos cantos de Virgílio.
O Inferno, primeira das três partes da Divina Comédia, é incorporado a Dante, relacionando o 11º canto da Justiça do Inferno, que converge a história na ideia aristotélica de Ética a Nicômaco sobre os “modos”: malícia, incontinência e bestialidade, características as quais vemos refletidas na relação Dante/Toretto.
Traição, alianças incomuns (que para o padrão do filme já são esperadas) e call-backs referenciando outros filmes da franquia se fazem presentes tanto nos diálogos quanto em imagens. Caso o filme fosse um dos primeiros da franquia e contasse uma história da qual não temos conhecimento, você poderia considerar uma estratégia válida a quantidade de flashbacks e detalhes “escondidos” nas histórias dos personagens. Contudo, o número de observações é absurdamente alto e deixa a impressão de que a história é amarrada e colada por barbantes e gomas de mascar; tudo para dar espaço a mais uma desventura da família Toretto.
Eu sou o capitão Dante Sparrow
Olhando mais para o vilão Dante, interpretado por Jason Momoa (foco nesse ator, é muito importante para o que vem a seguir), temos um vilão carismático e engraçado, contudo, não um bom vilão. O havaiano de 1,93m e 100kg de puro músculo interpreta um brasileiro, filho de um político “cabelo lambido”. É compreensível que o estilo “filhinho de papai” combine com ele, porém os traços “a lá Jack Sparrow” emprestados de Johnny Depp tornam o grandalhão um completo bobo, que mais parece um boneco de propaganda de posto de gasolina do que realmente alguém ameaçador. Os momentos em que Dante está sério e executando seu plano não brilham mais do que seus momentos cômicos – que enfatizo, são bons – mas não se misturam com a personalidade bruta do ator que comumente vemos nem a postura de sede de vingança do personagem.
“Eu tenho um exército” – “E nós temos família”
Colocando a luz agora sobre a família, Fast X traz três diferentes histórias ocorrendo ao mesmo tempo. Para não dar spoilers, não explicarei aqui quem está em cada uma delas, contudo, é possível dizer que elas podem confundir o espectador. As cenas são intercaladas e não contam histórias que estejam em velocidade síncrona, atrapalhando o ritmo.
Letty agora desempenha um papel muito mais ativo do que nos filmes anteriores, nos quais parecia ser apenas uma âncora emocional para Dom. Temos também um desenvolvimento (não confundir com aprofundamento, já que essa saga tem sérios problemas com isso) do trio Ramsey, Tej e Roman. Além disso existem as rápidas, mas marcantes aparições de Jason Statham, Brie Larson (Tess) , Scott Eastwood (o “Ninguémzinho”) e Charlize Theron. Mesmo sofrendo com a mania de: “ah mas tinha essa pessoa também” da franquia, Tess ainda é uma personagem MUITO BEM interpretada. A atriz entrega mais do que o roteiro propõe. Muito mais do que uma carinha loira e corajosa, Brie constrói uma Tess que passa segurança e confiabilidade. Mesmo que depois possa tornar-se vilã, conhecendo como os roteiristas da série costumam trabalhar.
Brilharam no filme também (and his name is) John Cena como Jakob Toretto e Sun Kang (Han), que (re)apareceram já no filme anterior. Ainda sobre os atores, vale lembrar que a cantora Ludmilla é quem dá a bandeirada para o racha nas ruas do Rio de Janeiro. A aparição é mais do que bem recebida pelos fãs, já que há tempo não tínhamos brasileiros de verdade aparecendo na tela, não é mesmo?
Prepare-se: Fast X não é o último
O filme vale a pena ser assistido por ser a primeira parte do (esperamos que) fechamento da franquia como a conhecemos. Referenciando todos os filmes, inclusive o curta que conta a história de como Dom conhece Han na Rep Dominicana, Fast X não é um filme com um roteiro tão cativante quanto os primeiros. Para alegria da maioria, há muito mais carros e menos foguetes, satélites e armas tecnológicas. No entanto, ainda temos cenas de CGI questionáveis e delírios megalomaníacos dos vilões. Vilões esses que poderiam facilmente se categorizar como vilões de James Bond, pelo alcance de seu poder e dinheiro. Portanto, antes de você assistir, tenha em mente que o filme não acaba no Fast X. Mais uma letra será anunciada logo, logo!
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