As novelas sempre ocuparam um espaço central na cultura nacional, atravessando gerações e consolidando-se como um dos produtos audiovisuais mais populares do país. No entanto, com o avanço da tecnologia e a transformação dos hábitos de consumo de entretenimento, o formato, antes restrito à televisão aberta, encontrou um grande desafio: a produção de séries e o consumo sob demanda.

Pensando em tal cenário, a autora de grandes sucessos como a recente Vai Na Fé (2023), Rosane Svartmann, refletindo em seu livro Telenovela e o Futuro da Televisão Brasileira, lançado em 2023 afirma que “O futuro da telenovela está nas mãos do telespectador e o futuro da televisão brasileira está nas mãos da telenovela”, como ela escreve no último capítulo da publicação (leia aqui). Pensando sobre tal afirmação e utilizando o que descreve Svartmann é correto afirmar que o produto novela se adapta aos novos tempos. Surgindo há mais de 50 anos e ainda popular na cultura nacional, ela tem agora o desafio de se adaptar às novas formas de consumo.

Mesmo diante da concorrência acirrada com séries renomadas de alcance internacional, as novelas têm conquistado seu espaço no streaming, demonstrando sua capacidade de adaptação aos novos tempos. As plataformas têm investido no formato, disponibilizando tanto produções clássicas quanto inéditas, o que permite ao público consumir os folhetins de forma flexível, sem a limitação dos horários fixos da televisão. Dentre alguns exemplos, podemos citar a sempre aclamada Avenida Brasil, que recentemente o Prime Video incluiu em seu catálogo na América Latina, exceto no Brasil. No entanto, não são apenas as reexibições que têm conquistado espaço no streaming; novas novelas originais também estão sendo produzidas, reforçando a relevância e a capacidade de reinvenção do gênero.

Pedaço de Mim (2024)

Pedaço de Mim, escrita por Angela Chaves, chegou à Netflix não como uma novela em si, mas vendida como um melodrama. A obra tinha ao todo 17 capítulos e assim que estreou obteve uma grande aceitação e repercussão. O feito inclusive foi comentado em nosso portal (leia aqui).

A produção de Angela Chaves ainda ganhou o prêmio de Melhor Novela de 2024, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). A novela da Netflix desbancou a Rede Globo na categoria, talvez acendendo um sinal de alerta na emissora e ainda indicando “novos tempos”, já que agora o streaming pode ter se tornado uma “ameaça” ainda maior à TV Aberta.

Beleza Fatal (2025)

“Uma novela com cara e jeito de novela e para quem gosta de novela”- disse a diretora Maria de Médicis ao se referir à obra escrita por Raphael Montes. Beleza Fatal estrou com 5 capítulos disponibilizados na MAX no dia 27 de janeiro e assim como Pedaço de Mim, gerou uma grande repercussão e aceitação. A novela está figurando entre as produções mais assistidas do mundo na plataforma e é top 1 no Brasil.

Raphael Montes, durante a fase de divulgação de Beleza Fatal ainda declarou que a produção de novelas para streaming:

É um movimento natural de mudança. O público passou a escolher onde e o que assistir. Mas eu sinto falta de figuras identificáveis, nós perdemos essa espécie de identidade autoral. O que é muito perigoso.

Montes, neste caso entre em consenso com Rosane Svartmann, citada no início desde texto sobre a adaptabilidade do gênero.

Dona Beja (Ainda sem data definida)

Além de Beleza Fatal, a Max parece apostar fortemente em novelas brasileiras, já que também prepara o lançamento de Dona Beja. A obra na realidade não será um lançamento inédito, mas um remake da novela homônima exibida na Manchete em 1986. A nova telenovela da Max retratará a vida de Ana Jacinta de São José, a icônica figura brasileira conhecida como Dona Beja.

Ainda sem muitas informações e devido a alguns atrasos na produção seu lançamento deve ocorrer entre os segundo semestre de 2025 e primeiro de 2026.

Em conclusão

Com o sucesso das novelas no streaming, as plataformas têm investido cada vez mais na produção de tramas originais, adaptando o formato para atender às novas dinâmicas de consumo. Esse movimento não apenas reafirma a força do gênero, mas também influencia diretamente a TV aberta, que precisa se reinventar para manter sua audiência fiel.

Diante de tal cenário, as emissoras tradicionais necessitam acompanhar de perto essa transformação e as plataformas certamente devem explorar ainda mais este gênero televisivo. Diante das transformações no consumo de entretenimento, as telenovelas continuam a se reinventar sem perder sua essência. Sua capacidade de refletir o cotidiano e gerar identificação com o público garante sua relevância, seja na TV aberta ou no streaming. O crescente investimento das plataformas digitais no gênero demonstra que as novelas seguem como um dos pilares da cultura brasileira, equilibrando tradição e inovação. Ao mesmo tempo, a TV aberta observa atenta esse movimento, ajustando suas estratégias para manter o engajamento do público