Vamos direto ao ponto: sim, vale a pena ver Melanie: A Última Esperança agora — e se você se diz fã de The Last of Us, deveria parar tudo e correr para assistir. Ontem. Não é exagero, é um chamado. Um daqueles alertas que só quem cavuca o fundo do catálogo da ficção científica britânica entende: há histórias que chegam antes do seu tempo. E Melanie, injustamente ignorada em 2016, é uma delas.

Esqueça por um momento os zumbis genéricos, os apocalipses reciclados e os dramas apáticos que pipocam por aí. Melanie não se encaixa nesse molde. Ela quebra ele. Pisa em cima. Depois reconstrói, costurando filosofia, afeto e distopia numa narrativa que não tem medo de ser complexa e delicada ao mesmo tempo.
Melanie e The Last Of Us são irmãos separados pelo tempo?
A comparação com The Last of Us é inevitável, e, sinceramente? É necessária. Porque antes de Ellie conquistar o mundo com seu sarcasmo e sua imunidade milagrosa, Melanie já estava lá, tentando ensinar aos adultos que humanidade não se resume a um pulso batendo ou a um cérebro limpo de fungos. Melanie é uma menina infectada que pensa, ama, sonha. Que entende mais do mundo do que muito adulto armado até os dentes tentando salvar o que sobrou.

Se The Last of Us nos entregou uma fábula moderna sobre o amor em tempos de fim, Melanie foi além — colocou a ciência, a ética e o afeto para duelarem em campo minado, e saiu de lá de cabeça erguida. Sem precisar de grandes explosões, sem astro da vez no elenco, sem orçamento milionário. Só com roteiro, conceito e coragem. E quer saber? Isso é muito mais difícil de fazer.
A verdade é que Melanie: A Última Esperança passou batido porque exigia demais de um público acostumado com explicações fáceis. Era 2016. Ainda estávamos deslumbrados com universos cinzas e protagonistas masculinos moralmente ambíguos. Ninguém estava realmente pronto para um protagonista zumbi que falasse de amor e de genocídio no mesmo respiro.
Mas agora estamos. Ou deveríamos estar.
Vale a pena ver agora?
2025 é o ano ideal para redescobrir Melanie. Porque agora já conhecemos Ellie. Já engolimos o choro no final da série da HBO. Já discutimos os dilemas morais do Joel em todos os podcasts do planeta. E agora temos maturidade emocional e repertório narrativo para olhar para trás e dizer: nós devíamos ter prestado atenção naquela menina.
Ver Melanie hoje não é só assistir a um bom filme. É um ato de revisão crítica. É dar palco para uma história que chegou cedo demais — e que ainda assim, teve a ousadia de nos fazer pensar o impensável: e se o futuro não for humano, mas for mais justo?

Então sim, vale a pena. Vale cada minuto. Vale pela atuação sensível da Sennia Nanua, vale pelas perguntas difíceis, vale por nos lembrar que o cinema não precisa gritar para ser devastador. E acima de tudo, vale porque Melanie é mais do que um filme zumbi — é uma lição de narrativa, de sensibilidade e de futuro.
Assista. E depois me diga se ela não merecia estar no panteão das grandes histórias distópicas do nosso tempo.