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V me ensinou a lutar antes mesmo de eu saber que estava em guerra

Tem filmes que a gente assiste e esquece. Outros que assistimos e esquecemos de quem éramos antes deles. V de Vingança é esse tipo de filme. Uma aula, uma porrada, um sussurro de revolta num mundo que insiste em nos adestrar com medo. E se você, assim como eu, terminou Pecadores (sim, aquele com o Michael B. Jordan brilhando entre suor e sacrilégio) com o coração na garganta e os punhos cerrados, talvez seja hora de voltar à base. V ainda é essa base.

Eu tinha 13 anos quando vi V de Vingança pela primeira vez. Entendi metade, mas senti tudo. Senti raiva, vergonha, desejo de gritar. Hoje, com o país mergulhado em vigilância velada e censura informal — onde todo grito vira “mimimi” e todo corpo vira ameaça — percebo: V não era só um filme. Era uma previsão. E uma arma.

Pecadores é o filho sujo de V — e isso é um elogio

Vamos falar de Pecadores. Esse filme não chegou para agradar ninguém. E ainda bem. Porque ele não quer seu aplauso. Quer o seu incômodo. Quer que você sinta o desconforto de ver fé e tesão no mesmo frame. Quer que você questione a pureza que a sociedade vende enquanto lucra com cada pecado que aponta. E no meio disso tudo está ele: Michael B. Jordan, não como herói clássico, mas como homem nu, suado, possuído pela culpa e pelo desejo de mudança. Ou seja: um revolucionário em carne viva.

E adivinha quem foi o arquétipo? V.

Ambos personagens estão cercados por sistemas corruptos, governos teocráticos, e uma elite que se esconde atrás de “valores”. Ambos escolhem a performance como resistência — V com sua máscara e poesia, o protagonista de Pecadores com sua dança sacrílega e olhos famintos. Ambos são homens quebrados que entendem: a única forma de lutar é fazendo arte com dor.

V de vingança: Quando foi que começamos a ter medo da beleza que incomoda?

Rever V de Vingança hoje é lembrar que revolução não é só marcha e cartaz. É estética. É linguagem. É gritar com estilo porque o sistema não sabe lidar com o belo que subverte. Em Pecadores, cada cena é um tapa: corpos negros em êxtase, religião questionada sem medo, a ideia de “pureza” sendo desconstruída até virar pó. E você pode até dizer que é exagerado, mas vou te dizer: não existe revolução gentil.

A arte que não te obriga a pensar, a mudar, a se debater por dentro… não é arte. É anestesia. E já estamos sedados há tempo demais.

Então vale a pena ver V de Vingança agora ?

Sim. Mas não ache que vai ser confortável. Rever V agora, depois de Pecadores, é quase como ler o prefácio de um livro que você só entendeu no epílogo. É perceber que a luta começou bem antes — e que ainda não acabou. Que liberdade exige risco, e que não existe neutralidade em tempos de opressão. Quem finge imparcialidade está do lado do opressor. E V nunca fingiu nada.

Então, sim: veja V de Vingança. Veja agora. Veja com raiva, com medo, com esperança. Veja para lembrar que estamos todos a um passo de sermos silenciados. Que as máscaras não escondem — revelam. E que às vezes, para salvar o mundo, você precisa explodir o velho com poesia, gasolina e um violino tocando ao fundo.

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