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Plano 75: Os limites da ética na roda do dinheiro

Plano 75 é um filme dramático japonês de ficção científica que vem ganhando bastante destaque no Brasil. Na trama, o governo do Japão criou um programa chamado Plano 75, que se baseia em oferecer 100 mil ienes para os cidadãos idosos que se voluntariarem a participar do processo de eutanásia. A ideia é para solucionar o problema do envelhecimento da sociedade. O dinheiro poderia ser usado para gastar antes da morte, ou era destinado à família do voluntariado. Uma senhora que vive em condições precárias, um defensor do Plano 75 e uma jovem trabalhadora Filipina terão que fazer escolhas drásticas.

Dirigido pela cineasta Chie Hayakawa, o filme recebeu uma Menção Especial no Caméra D’Or do Festival de Cannes 2022, na seção Um Certo Olhar e também foi escolhido para representar o Japão no processo seletivo do Oscar 2023, na categoria Melhor Filme Estrangeiro. O elenco conta com Chieko Baisho, Hayato Isomura, Stefanie Arianne, Mari Nakayama,Yumi Kawai,Kazuyoshi Kushida e Hiroaki Kawatsure. 

PLANO 75 RECEBE PÔSTER E TRAILER OFICIAIS

O filme faz uma profunda crítica ao etarismo e questiona até onde os valores morais realmente são seguidos quando existe um “jogo de interesse” político e social. É posto em xeque na trama várias ponderações: Até quando somos úteis numa sociedade onde o dinheiro fala mais alto? O ser humano vira um “gasto” quando chega na velhice? Porque aqueles que deveriam nos proteger, criam medidas que estimulam a exclusão e o extermínio do próprio povo? 

Com uma história intrigante e pesada, a trama aborda o etarismo e a quebra da ética de uma forma emocionante e bem dramática. O filme não teve medo e “pesou bem a mão“ no quesito drama.  Para impactar, a trama utilizou bastantes elementos e diálogos intensos. O curioso é, que por mais que tenham situações que beiram o absurdo, a impressão que passa é que o objetivo é de, ao mesmo tempo gerar raiva e ódio no espectador, também é fazê-lo entender que, por mais que o filme se passe num futuro distópico, isso realmente poderia acontecer. Foi através da hiper dramatização do absurdo que o longa choca e leva o público à reflexão.

A narrativa proposta foi bem criativa e original. A história trouxe três protagonistas: Michi, uma senhora de 78 desempregada, Hiromi, um vendedor do Plano 75, e Maria, uma Filipina em busca de emprego. O ponto central foi mostrar como o Plano 75 afetou cada um deles durante a trama. Isso foi muito interessante, porque mostra diferentes perspectivas dos impactos desse programa. Claro que ao ler a sinopse, todos percebem que a Michi foi a mais afetada por ser uma idosa, porém foi legal como o filme quis explorar um “leque maior” de consequências, não se limitou a ficar preso a uma única ideia, no óbvio.

Um destaque foi a escolha da trilha sonora. Além das músicas serem bem bonitas e emocionantes, elas foram fundamentais para atribuir uma maior dramaticidade à trama e foi um ótimo recurso para comover e tocar o coração do espectador. Também foi interessante como a diretora quis “brincar” um pouco com o som, contrastando músicas, até então felizes, com situações tensas e tristes. Isso deu mais força e peso a determinadas cenas, principalmente as que beiravam o absurdo.

La recensione di Plan 75 | Cineforum

Apesar dos pontos positivos, a trama apresentou alguns problemas. Na história, uma onda de assassinatos contra idosos estava acontecendo no Japão. No entanto, essa questão é rapidamente apresentada e não foi explorada da forma que poderia ter sido. No início, até é mostrado um atentado contra uma senhora de idade, porém poderiam ter explorado mais isso, trazer mais cenas que mostrassem a gravidade e seriedade dessa questão. Essa situação foi uma das motivações do governo criar o Plano 75, então teria sido interessante um maior desenvolvimento disso para entender melhor o cenário em  que o filme estava inserido.

A relação de Maria com o Plano 75 não foi muito bem desenvolvida. A proposta do filme era mostrar como cada personagem foi afetado por essa medida governamental. A Filipina é introduzida na história como uma mãe que se mudou para o Japão em busca de melhores condições de vida. Posteriormente, ela arruma o emprego de coletar os itens dos idosos falecidos que aderiram ao programa. É até mostrado que de início, Maria fica incomodada, porém o filme para por ai. Ele não desenvolve mais esse incômodo dela, e além do mais, a Filipina passa a ficar apagada na história, mal aparece mais. Não ficou claro como o Plano 75 afeta a personagem, nem o propósito dela na história.

Plano 75 (2022) – Meio Amargo

Apesar de ter pecado um pouco no desenvolvimento, Plano 75 em geral foi um bom filme. Com uma proposta narrativa criativa e uma história emocionante, o longa prende a atenção do espectador do início ao fim e promete comover e chocar quem assiste. Plano 75 irá chegar aos cinemas dia 25 de abril. Se você ficou interessado, então fica de olho que já já o filme entrará em cartaz.

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